LIÇÃO 8 – A MULHER CRISTÃ COMO SERVA NA IGREJA
Owen D Olbricht
Nas três últimas décadas — por quase uma geração — tem se questionado se existe ou não, ou se deve existir, alguma diferença entre os papéis designados às mulheres e os papéis designados aos homens na igreja. Feministas ardentes acreditam que as mulheres devem ter o direito de aceitar um papel que antigamente era restrito a homens. Sentem-se ofendidas com o fato de haver designações específicas ou “ministérios” confiados a homens, enquanto outras tarefas são atribuídas a mulheres no serviço e na adoração da igreja. Querem instituir uma espécie de “reforma” para dar às mulheres posições de liderança na igreja. Embora não tenhamos provas convincentes de que existisse a função de “diaconisa” na igreja do Novo Testamento, a igreja certamente tinha mulheres que serviam em vários ministérios de acordo com suas habilidades e em harmonia com os princípios bíblicos que regem a posição da mulher na Igreja. Não é preciso provar a existência do cargo de “diaconisa” para comprovar que se escolhiam mulheres para realizar trabalhos especiais como servas na igreja.
OBREIRAS NA IGREJA
Mulheres ajudaram Paulo no seu trabalho. A igreja em Filipos mandou um irmão ir trabalhar com Paulo (Filipenses 2:25-28). Ajudando Paulo, Epafrodito estava fazendo “a obra de Cristo” (Filipenses 2:29, 30). Paulo incentivou a igreja em Filipos a ajudar duas mulheres que tinham trabalhado com ele no evangelho:
Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor. A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida (Filipenses 4:2,3).
Essas mulheres tinham dado assistência à obra do Senhor, e era justo que a igreja agora as ajudasse.
Igrejas escolhiam e sustentavam mulheres que faziam o trabalho do Senhor. Por isso Paulo disse:
Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive (Romanos 16:1,2).
Alguns utilizam essa referência como prova de que as mulheres receberam posições de liderança na igreja primitiva. Elaborar um argumento em cima dessa afirmação é, no mínimo, insustentável. Se existiu esse ofício na igreja primitiva, então “diaconisa” é o único ministério na igreja para o qual não há qualificações registradas na Bíblia.
O significado da palavra usada em relação à Febe em Romanos 16:1, ‘diakonon’ (1), não é de supervisão administrativa ou de tomar conta de algo, pois essa responsabilidade foi dada aos presbíteros da igreja (Atos 20:28; 1 Pedro 5:1, 2); nem inclui a ideia de tomar decisões em nome da congregação.
Paulo afirmou que Febe era a ‘prostatis’, aquela que “tem ajudado muita gente e a mim também” (Romanos 16:2; NTLH). Se ‘prostatis’ significasse “autoridade” ou “governadora” nesta passagem, então Febe exerceu autoridade sobre Paulo, uma inferência que poucos arriscariam. O sentido de “protetora de grande ajuda”, que geralmente está contido no termo, combina melhor com o relacionamento que Febe tinha com o apóstolo e com muita gente. As provas são inadequadas para confirmar que Febe ocupava uma função dentro da igreja. Não se deve estabelecer um conceito doutrinário utilizando uma passagem que não apresenta um contexto suficientemente claro como prova do caso.
Um ‘diakonos’ era alguém que cumpria as ordens daqueles que tinham a autoridade. Ele não estava no comando nem na posição de tomar decisões. Se Febe era uma diaconisa, ela não ocupava uma posição de autoridade na congregação de Cencréia. Independentemente de ser uma “diaconisa”, Febe era uma cristã dedicada que serviu em sujeição a outros, cumprindo as decisões dos que estavam na liderança.
O trabalho que ela estava fazendo não se restringia às adjacências da congregação da qual ela era serva. Em Romanos 16:1,2, Paulo disse aos cristãos de Roma para receberem e ajudarem aquela “que está servindo à igreja de Cencréia”. Ela havia ajudado Paulo e muitos outros. Estava viajando, por assim dizer, com uma carta de apresentação e recomendação; pois, nesses versículos, Paulo apresentou Febe à igreja em Roma e pediu ajuda em favor dela.
Algumas enfermeiras cristãs que servem muita gente na Nigéria são sustentadas pela igreja. Elas não são pregadoras de púlpito, mas são eficientes servas da igreja. Uma igreja poderia sustentar uma mulher como uma enfermeira em tempo integral para os doentes de uma comunidade — se essa igreja julgar conveniente, se houver necessidade e se ela puder —; pois é justo sustentar quem se dedica à obra do Senhor, aqueles que ajudam tanta gente. Todavia, algumas igrejas que sustentam um zelador para cuidar do prédio físico onde seus membros se reúnem (e este é um trabalho digno) julgariam fora de cogitação sustentar uma enfermeira para cuidar das necessidades físicas de alguns santos e pecadores.
Não estamos sugerindo com isto que todos os servos da igreja devam ser mantidos financeiramente pela igreja. Teríamos uma igreja espiritualmente pobre se ninguém servisse sem ser pago por isso! Os presbíteros podem pedir às mulheres que sirvam a igreja de inúmeras maneiras. Elas podem controlar o estoque de pão e suco de uva para a ceia do Senhor; podem ajudar outras mulheres no momento do batismo; podem fazer o trabalho de visitação; podem ensinar as mulheres e crianças; podem evangelizar, ser hospitaleiras e ajudar de muitas outras maneiras.
Paulo mostrou que as mulheres cristãs, em geral, devem possuir pelo menos algumas das características das mulheres descritas em 1 Timóteo 3:11. Ele disse em Tito 2:3 que as mais velhas devem ser “sérias em seu proceder”, enquanto 1 Timóteo 3:11 diz que as mulheres devem ser “respeitáveis”. As mulheres mais velhas devem ensinar as mais novas a serem “sensatas” (Tito 2:3-5). Será difícil elas fazerem isso se elas mesmas não forem sensatas. Jovens ou velhas, as mulheres não devem ser “maldizentes”. Paulo disse que as mulheres devem ser “temperantes” (1 Timóteo 3:11) e especificou que as mais velhas não devem ser “escravizadas a muito vinho” (Tito 2:3).
As mulheres mais velhas devem ajudar a instruir “as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:4, 5). As mulheres sobre as quais Paulo falou em 1 Timóteo 3:11 deveriam ser “fiéis em tudo”; essa descrição geral deve qualificar qualquer mulher cristã.
A igreja precisa de mais servas desse tipo. Elas não têm de ser designadas por presbíteros para fazerem esse trabalho, pois Deus já as designou, por meio de Paulo. Paulo disse para Tito falar “o que convém à sã doutrina” (Tito 2:1), e incluiu instruções específicas para as mulheres mais velhas (Tito 2:3). Alguns podem ser incumbidos pelos presbíteros para trabalhos específicos; mas as mulheres não precisam necessariamente ser assim incumbidas para atender e aproveitar as oportunidades de servir.
É muito importante que a mulher entenda seu papel de serviço na igreja e seguir as diretrizes da Bíblia. Durante dezoito séculos, diversas corporações religiosas — embora divergentes em muitos outros pontos doutrinários — concordaram essencialmente com os relativos papéis dos homens e das mulheres nos cultos de adoração e nos trabalhos da igreja. Por quê? Quando cuidadosamente examinadas à luz da Palavra de Deus, essas questões são tão claras que é impossível confundi-la.
Aqueles dentre nós que buscam na Bíblia autoridade para responder todas as questões religiosas — aqueles que se preocupam em honrar as exigências de Deus para a edificação da Sua igreja na terra — precisam aprender quais limitações, se houver alguma, recaem sobre cada sexo. Havendo limitações, devemos ser fiéis a elas. Todavia, mesmo entre aqueles que estão decididos a fazer todas as coisas de acordo com as instruções de Deus, surgem francas diferenças. Essas diferenças devem ser resolvidas através de um exame detalhado das passagens bíblicas pertinentes.
AS DIRETRIZES BÍBLICAS
Primeira Timóteo 2 é uma passagem importante para se estudar com o fim de aprender se há ou não limitações impostas no trabalho de homens e mulheres na igreja. Naquele contexto, Paulo deu instruções para os dois sexos. Observemos os detalhes, prestando uma atenção especial às mulheres. Também observaremos as palavras que foram usadas na língua original do Novo Testamento, o grego, língua esta que muitas vezes é mais precisa do que a nossa.
“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos. Para isto fui designado pregador e apóstolo (afirmo a verdade, não minto), mestre dos gentios na fé e na verdade.” (1 Timóteo 2:1-7).
Paulo usou uma palavra para “homem” ou “homens” quatro vezes nesses sete versículos. Em cada caso essa palavra é anthropos, o termo grego para “homem”, ou seja, “espécie humana” ou “raça humana”, incluindo seres humanos dos dois sexos e as crianças. A palavra portuguesa “antropologia” (que significa estudo da humanidade) vem da palavra grega que Paulo usou. Paulo declarou:
“Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade. Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas). A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio.” (1 Timóteo 2:8-12).
Tendo se dirigido a todos, homens, mulheres e crianças, Paulo começou quase que abruptamente a falar no versículo 8 sobre as obrigações específicas dos homens e das mulheres como seres diferenciados pelo sexo. Ele continuou o seu discurso por todo o resto do capítulo. Aqui, quando ele disse “varões” ou “homem”, ele usou a palavra especial para o sexo masculino, que também equivale a marido. Essa palavra tem duas formas: ‘aner’ e ‘andros’. Semelhantemente, quando disse “mulher” ou “mulheres”, Paulo usou o termo grego específico para mulher como ser do sexo feminino, ou esposa: “gune’, palavra de onde procede o termo “ginecologista”, médico de mulheres ou esposas.
A BASE RACIONAL DAS DIRETRIZES BÍBLICAS
A instrução de Paulo não foi um exercício autoritário sem propósitos. Ele apresentou as razões do seu ensino:
Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, [a mulher] será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanece em fé, e amor, e santificação, com bom senso (1 Timóteo 2:13- 15; grifo meu).
O homem (sexo masculino) deve exercer a liderança em cultos públicos de adoração por quatro motivos: 1) por causa do mandamento direto e inspirado de Paulo, 2) por causa da ordem estabelecida na criação, 3) por causa do engano que a mulher sofreu e do desastre resultante dela assumir o papel de liderança no jardim do Éden, e 4) pelo fato do papel feminino estar voltado para o lar.
Essa instrução está em harmonia com todos os ensinos de Paulo sobre as mulheres exercerem autoridade de homem. As mulheres devem ensinar em determinadas circunstâncias, mas não devem pregar no púlpito, porque a pregação é feita através do exercício da autoridade. Compare 1 Timóteo 2:11 e 12 com Tito 2:15:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio (1 Timóteo 2:11,12).
Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze (Tito 2:15).
Na língua original, a expressão de Paulo “com toda a submissão” (1 Timóteo 2:11) utiliza a palavra “hupotage’, que significa “sob autoridade”1. Paulo disse para Tito pregar com “toda a autoridade”. Essa expressão é ‘epitage’, que significa literalmente “em cima de autoridade”. Portanto, ele disse que a mulher deve estar sob autoridade.
RESPEITO PELAS DIRETRIZES BÍBLICAS
As Escrituras fornecem vários meios de se definir o devido papel das mulheres na igreja. Com base nos fatores seguintes, vemos que a mulher está em sujeição ao homem: 1) a ordem da criação divina (Gênesis 2:7, 18-23; 1 Coríntios 11:3); 2) a lei divina (Gênesis 3:16; 1 Coríntios 14:34); 3) o mandamento específico dos apóstolos (Colossenses 3:18; 1 Timóteo 2:8-15); 4) o exemplo aprovado (1 Pedro 3:5) e 5) a constituição física e emocional (1 Pedro 3:7).
Reconhecer seu papel de submissão não transforma a mulher num ser inferior, mas permite que ela obedeça a Deus! Deixar de aceitar o seu papel faz da mulher um ser rebelde. E isto é pecado!
Relacionamentos entre homens e mulheres são discutidos plenamente em 1 Coríntios 11:3-9: O homem é o cabeça da mulher, assim como Cristo é o cabeça do homem e Deus é o cabeça de Cristo. Não há ofensa nem insulto quando se reconhece que o cabeça não é superior. O cabeça não é mais digno do que os outros. O cabeça é o líder, o guia e a autoridade.
A mulher está subordinada ao homem. Subordinada não significa inferior. Quem é subordinado é um auxiliador, está sob a liderança de outro, é governado por outro. A diferença não está no valor, mas na função!
Sejamos justos. Será que Paul acorrentou uma mulher na cozinha, trancou-a na lavanderia, no quarto ou no quarto do bebê? Ele não sugeriu nenhuma dessas ideias, porque honrou o gênero feminino e apreciou as contribuições que muitas das filhas de Eva fizeram ao corpo de Cristo. Muitas mulheres foram de grande ajuda para o próprio Paulo. Além disso, ele não estava sozinho ao apresentar essa visão da mulher. Nada que Paulo e qualquer outro escritor bíblico disseram sobre a subordinação da mulher contradiz com o que eles mesmos disseram sobre a parceria da mulher ao lado de Deus e do homem:
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:27).
“…Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada.” (Gênesis 2:23).
“De modo que já não são mais dois, porém uma só carne.” (Mateus 19:6).
“…a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia… tem sido protetora de muitos e de mim inclusive.” (Romanos 16:1, 2).
“No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem o homem, independente da mulher.” (1 Coríntios 11:11).
“Desse modo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:28).
“Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama.” (Efésios 5:28).
“Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice…” (2 Timóteo 1:5).
“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações.” (1 Pedro 3:7).
CONCLUSÃO
As mulheres podem servir a Cristo com os seus talentos; e algumas, como Dorcas, podem fazer isso com agulha e linha. As mulheres serviram a igreja do Novo Testamento em todos os ministérios que descrevemos nesta lição. Assim como Febe, Evódia e Síntique atuaram no apoio ao apóstolo Paulo de forma protetora e grande ajuda na propagação do evangelho. Elas também serviram de muitas outras maneiras em harmonia com as habilidades, o treinamento e as oportunidades que tiveram e em harmonia com os princípios bíblicos que regem a posição da mulher na igreja. Todas as congregações têm servas, sejam ou não formalmente escolhidas e nomeadas. Todas as congregações têm mulheres com as quais a igreja sabe que pode contar e convocar, ou mulheres que automaticamente suprem determinadas necessidades.
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REFERENCIA:
OLBRICHT, Owen D. A Mulher Cristã – Febe Era uma Diaconisa? Disponível em: <http://www.biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_200410_05.pdf>. Acesso em: 18 de março de 2020.
OLBRICHT, Owen D. A Mulher Cristã – Servas da Igreja. Disponível em: <http://www.biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_200410_06.pdf>. Acesso em: 19 de março de 2020.
OLBRICHT, Owen D. A Mulher Cristã – O Papel da Mulher na Igreja. Disponível em: < http://www.biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_200410_13.pdf>. Acesso em: 21 de março de 2020. IMAGENS – Imagem 1 – gracaemflor.com –
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