Esse é nosso último módulo de estudo!
A IGREJA E A RESTAURAÇÃO
A pergunta que não que calar?
Onde Está? O que aconteceu com a igreja verdadeira dos Apóstolos?
Existirá ainda?
Leia atentamente o estudo abaixo para entender!
O sonho de Jesus sempre foi a unidade de seus discípulos, mas ao mesmo tempo reconhece a infiltração de falsos mestres e orienta como devemos agir. Depois da reforma com: Lutero, Zwinglio e Calvino a igreja tomou uma direção diferente, onde a multiplicação de igrejas clamará, não por reformas, mas por restauração. O Movimento de Restauração é um movimento do Espírito santo de volta às Escrituras que começou por volta de 1800, sendo seu propósito retornar a Igreja a seu estado original em termos de doutrina, governo e vida. O modelo para esta restauração é a Palavra de Deus, ou, mais especificamente, o Novo Testamento.
INTRODUÇÃO
Nesta Web-Aula, trataremos com mais especificidade, a história das Igrejas de Cristo no Brasil e também de alguns outros movimentos relevantes na atualidade. Trataremos de outras igrejas e movimentos religiosos de modo mais rápido, e reservaremos mais espaço para esta fraternidade.
A igreja de Cristo sempre existiu durante toda a história da humanidade. Alguns movimentos, contudo, não acreditam que o cristianismo tenha sobrevivido todo o tempo e que só foi “restaurado” ou “ressurreto” em tempos recentes. Um exemplo disto são os chamados “Mórmons” cujo nome oficial é “Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”. O que este nome quer dizer é: (i) havia “santos” no começo da igreja, (ii) mas depois com a apostasia, não houve mais “santos” e (iii) agora, nos “últimos dias” com o estabelecimento daquela nova igreja, voltaram a existir santos. Ou seja, “não existem santos no meio da história” só no começo e no fim!
Contudo, além das profecias bíblicas do aspecto perene da igreja,1 tal constatação pode ser feita em uma leitura da história da igreja que não seja legalista querendo que todas as gerações de cristãos vivam um mesmo formato cultural de expressão de fé. Muitos cristãos desconhecidos viveram e morreram pela fé em épocas de discussões filosóficas ou de descarada imoralidade do “clero”. O povo comum não é facilmente aquilatado pelo historiador.
Também deve-se levar em conta a graça de Deus, perdoando os erros e desvios da igreja e dos cristãos durante a história. Seria prepotente e orgulhoso pensar que somos melhores que os cristãos de épocas anteriores. Certamente, daqui a 1000 anos, se Jesus ainda não tiver retornado, muitos historiadores honestos da igreja irão desmascarar erros que cometemos hoje, sem que percebamos que os estamos fazendo.
Assim, é um ato de fé crer que Deus, na história do Cristianismo, sempre manteve os seus “sete mil que não dobraram os joelhos diante de Baal”. É óbvio que nosso desejo é ser contado entre estes, mas devemos imaginar que o jeito de Deus contar pode ser diferente do nosso, pois sua graça e sua capacidade de perscrutar corações faz com que nossa avaliação fique muito aquém da dele. O conceito de “restauração” que usaremos nesta lição e nos estudos ligados ao desenvolvimento das igrejas de Cristo dizem respeito ao alvo de viver nos dias de hoje, um cristianismo o mais próximo possível ao cristianismo das igrejas apostólicas. “Restaurar” significa voltar aos princípios, às doutrinas, às práticas e ao Espírito das primeiras comunidades cristãs, sem necessariamente viver com a mesma cultura ou na mesma época histórica ou tecnológica.
SÍNTESE
A história do Movimento de Restauração da igreja iniciado nos Estados Unidos da América e sua historia no Brasil até os dias de hoje.
DISCUSSÃO
Em todas as épocas, gostamos de imaginar quem seriam os “cristãos autênticos” que mantiveram-se fiéis durante a apostasia geral do cristianismo, seguindo os papas e os desvios doutrinários posteriores.
Podemos imaginar que tanto Tertuliano (155-223) no Norte da África e também Hipólito (160-235) em Roma, em suas críticas ao cristianismo de sua época, realizavam o que chamamos hoje de “restauração” da igreja aos moldes originais, que já estavam sendo abandonados.
No caso de Hipólito, ele lutou contra a hierarquia que já estava se desenvolvendo em Roma buscando formas mais cristãs de expressão da vida da igreja.
O próprio Tertuliano era um homem conservador. Lutava pela pureza doutrinal e ética. Sua opção pelo Montanismo, no fim de sua vida, revelava um desejo de retorno a uma fidelidade de vida maior do que a que via em sua época.
Tanto Hipólito como Tertuliano, aos olhos da igreja católica, foram cristãos “desviados”. Logo, podemos imaginar que os desviados não eram eles!
As igrejas coptas no Egito e na Abissínia (440-500) também representaram, em sua época, igrejas que lutaram por uma igreja que se mantinha fiel ao passado, resistindo às inovações recentes da cristandade. Davam ênfase em pureza de vida e jejum.
Os famosos cátaros e os paulicianos (a partir de 700 d.C.) foram movidos pelo desejo de restaurar um cristianismo puro e simples. Havia milhares de membros desse grupo durante o século IX. Estudavam as Escrituras regularmente, celebravam semanalmente a Ceia do Senhor, batizavam adultos por imersão. Rejeitavam os sacramentos externos, imagens e relíquias da igreja de então. Rejeitavam todo o credo e autoridade humana, denunciando os vícios e a ignorância dos clérigos. Foram criticados pela igreja e chamados de hereges. Muitas crenças e doutrinas atribuídas a eles são formas caluniosas de atrair sobre eles o ódio do povo em geral. Apesar de algumas doutrinas deles serem equivocadas, seu desejo era de uma igreja pura como a que os apóstolos de Jesus plantaram.
Os Albigenses (c. de 1100 d.C) foram um grande grupo de cátaros no sul da França, na região de Albi (de onde se derivou o nome). Setenta por cento dos habitantes daquela região foi exterminada por ordem do Papa Inocente III, em uma tentativa de destruir os Albigenses. Eles também representam uma tentativa de voltar aos princípios cristãos de prática e fé. Alguns dos descendentes dos Albigenses ainda moram na França, na Suíça e na Itália, servindo a Deus de uma maneira muito conservadora e relativamente próxima à Bíblia.
Homens considerados hereges pela Igreja Romana como Arnaldo de Bréscia (1100-1155), Pedro de Bruys e seus seguidores os pedrobrusianos juntamente com Henrique e os heriqueanos divulgaram suas ideias entre 1112/3 até 1132/3, quando foram presos e mortos. Pedro era um padre expulso por Roma. Acatava apenas os Evangelhos. Desprezava a hierarquia e acatava apenas o grupo dos fiéis. Contra o batismo infantil, a cruz, a missa como sacrifício, contra o canto litúrgico antigo. Henrique e seus seguidores pregavam (i) contra os vícios do clero e (ii) sobre o
matrimônio e perdão de prostitutas. Henrique também não aceitava o pecado original, nem as orações pelos mortos. Pregavam a pobreza para os clérigos, coisa difícil na época. Ambos os movimentos foram considerados heréticos, contudo, veja como estas “heresias” eram restauradoras de algumas verdades importantes.
Os valdenses, seguidores de Pedro Valdo (c. de 1217) existem até hoje. Na Itália, no Uruguai e em alguns outros lugares, colônias inteiras deles ainda existem.
Movimento iniciado por Pedro Valdo5 ( c. de 1215), no sul da França. Também chamados de “Homens Pobres de Lyon”. Pregavam, na língua do povo, sem consentimento da igreja e foram excomungados em 1184 e perseguidos.
A Bíblia era sua regra de fé e podia ser usada no vernáculo do povo. Viviam vida simples, comunal. Praticavam a ceia, o batismo e a pregação dos leigos, inclusive mulheres. Negavam o purgatório, orações pelos mortos, missas, culto aos santos, indulgências, juramentos e serviço militar. Frisavam o Sermão do Monte. Sua teologia era, em geral, perfeitamente ortodoxa.
Achavam que a igreja romana era a prostituta do Apocalipse. Criam que a igreja corrompeu-se depois de Constantino. Reconheciam na igreja o tríplice ministério, me ordenação simples por oração e imposição de mãos.
Pedro, ao ler as Escrituras, em 1173 AD, profundamente tocado, deu tudo que tinha aos pobres (até o ano 1176) e passou a viver e pregar a pobreza apostólica – de dois em dois – incentivando o arrependimento.
Após a excomunhão, os “irmãos” continuaram a pregar e reunir- se de modo clandestino. Acabaram por acatar os princípios da Reforma Protestante. Até hoje, há comunidades Valdenses.
Os Apóstolos de Cristo eram uma seita de 1260, fundada por Gerardo Segarelli. Mais um grupo que pregava a “pobreza evangélica” e o arrependimento. Apesar de apresentarem uma visão da história muito peculiar, representam pessoas do povo desejando voltar ao cristianismo bíblico. Foram perseguidos e mortos.
Os lollardos, seguidores de João Wycliffe (1328-1384) e atuaram, sobretudo, na Inglaterra. Ele era professor na Universidade de Oxford e fez a primeira tradução completa do NT do latim para o inglês (1384). Aceitava a Bíblia e não o Papa como autoridade final em religião (1382). Queria reformar a igreja, retirando as indulgências e as ordens religiosas. Não aceitava a transubstanciação, o celibato clerical, o purgatório, a adoração de imagens e cria que o Estado podia tomar os bens de uma igreja corrupta. O clero não devia ocupar cargos públicos, mas pregar. A igreja verdadeira eram os predestinados e o seu aspecto visível podia ser corrompido e até ser o Anticristo. Enviou pregadores pobres para ensinar a Bíblia ao povo comum. Ele morreu de morte natural, mas depois, seus ossos foram exumados, queimados e jogamos num rio. Os lollardos persistiram até a Reforma, embora houvesse perseguição e alguns se retratassem.
Os hussitas, seguidores de João Huss (1373-1415), da Boêmia, também representaram um movimento de restauração do cristianismo. João Huss era reitor da Universidade de Praga e foi influenciado pelos ensinos de Wycliffe. Aceitava a Bíblia como regra de fé. Pregava na língua do povo e queria reformar a igreja. Foi chamado a Roma, mas por não ir, foi excomungado. O povo o apoiou na pregação contra as indulgências. Pelo bem de Praga, foi para o exílio, mas continuou a pregar. O Imperador Sigismundo deu-lhe um salvo-conduto para apresentar-se ao Concílio de Constança. Apesar disto, a igreja afirmou não precisar ser fiel com um herege e ele foi condenado pelo Concílio de Constança e queimado vivo. Esta fato revoltou a Boemia e o resultado foi a formação dos Unitas fratrum, que será, mais tarde, a base dos irmãos boêmios conhecidos como Irmãos Morávios.
Na verdade, pode-se pensar que todos os grandes líderes da reforma, tais como Lutero, Zwínglio, Calvino, Knox e outros eram todos reformadores que buscavam a restauração do cristianismo primitivo.
Claro que havia diferenças de pensamento sobre o alcance e a natureza do retorno à igreja original. Zwínglio pensava em restaurar as formas e as funções da igreja bíblica. Lutero, contudo, pensava apenas em restaurar o espírito da igreja, sem
grande ênfase nas formas ou nos expedientes. Calvino representa a vida média entre eles, não sendo tão radical como Zwínglio e nem tão liberal como Lutero. Contudo, todos eles anelavam por um cristianismo baseado na Bíblia e não neles. Por exemplo, Lutero disse aos seus seguidores: “Denominem-se, não luteranos, mas sim, cristãos”.
Os anabatistas (1520-1525) foram um grupo que buscava o retorno ao batismo dos crentes, como a igreja antiga pregava. Sua base era a Bíblia e não as autoridades religiosas. Eles eram parte de um amplo e variado movimento do Século XVI, que considerava a Igreja Católica muito diferente da igreja do Novo Testamento. A Igreja Católica também muitas igrejas protestantes estatais resistiram duramente a estes grupos. Alguns de seus líderes foram foi martirizados e várias vezes, os próprios anabatistas foram mortos e perseguidos.
Eles tentaram voltar a toda prática e doutrinas bíblicas, errando apenas ao enfatizar, exageradamente, alguns dos detalhes do Novo Testamento, esquecendo-se de aspectos muito mais importantes ao evangelho: a justiça, a misericórdia, o amor. Contudo, este erro é comum a toda a cristandade em quase todas as épocas.
Reforma ou restauração?
A existência e leitura da Bíblia, em muitas épocas fez surgir movimentos de reforma e restauração da igreja bíblica. Haveria uma diferença entre os conceitos de “reforma” e “restauração”?
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Numa primeira avaliação, precisamos considerar que não existe grande diferença entre reforma e restauração. Muitos dos chamados “reformadores” queriam “restaurar” a igreja original. O que gerou a diversidade de resultados foram as diferentes concepções de “igreja original” de cada reformador. Alguns, como Henrique VIII tinham pouca visão religiosa e espiritual em sua “reforma”. Outros, como os anabatistas pensavam em mudanças mais radicais e ancoradas na Bíblia. Muitos estudiosos do que estamos chamado de “Movimento de Restauração” descreveram o que ocorreu como “A Reforma do Século Dezenove”.
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Numa segunda resposta, devemos lembrar que há um uso técnico e consagrado do termo “Reforma”. São considerados “reformadores”, os líderes eclesiásticos do Século XVI que atuaram dentro e fora da igreja romana. Assim, Armínio, Wesley, os pietistas e outros importantes pensadores cristãos que buscavam elevar o nível do cristianismo de seu tempo, não foram chamados “reformadores”, logo, Reforma, no aspecto histórico, refere-se ao fenômeno de confronto com a igreja romana na Europa no Século XVI.
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Uma terceira consideração leva em conta que o uso do termo “Restauração” baseia-se no desejo de ir além da “Reforma”. O “Movimento de Restauração”, que gerou as fraternidades conhecidas como “Igrejas de Cristo”, é um movimento específico do fim do Século XVIII, que tinha plena consciência de que a Reforma Protestante não tinha atingido o pleno retorno às doutrinas e práticas do cristianismo apostólico. Pelo contrário, julgavam que o cristianismo de sua época estava dividido e cheio de lutas internas. Portanto, neste sentido, “Restauração” é ir um passo além da Reforma.
Segundo o ponto de vista do “Movimento da Restauração”, o que o mundo precisa não é de mais uma reforma das igrejas existentes, mas pelo contrário, de uma volta total à pureza da doutrina e prática da igreja do Primeiro Século.
Seu desejo é “restaurar a ordem antiga da religião”, no espírito de Jeremias 6.16, seguindo o caminho antigo, como revelado na Bíblia.
O vocábulo bíblico para a ideia de restauração é o termo “arrependimento” que foi usado nas cartas do Apocalipse (Ap 2-3) para pedir modificações de comportamento e crença nas igrejas da época. Apocalipse 2.5a apresenta uma boa definição de “restauração da igreja”:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (Ap 2.5a).
Movimentos de Restauração
No fim do Século XVIII e no início do XIX, um grupo de homens separados geograficamente veio a reconhecer, independentemente, que o problema da divisão religiosa baseava- se na negligência aos mandamentos específicos da Bíblia para a igreja. Eles descobriram que a divisão era provocada por ensinos não bíblicos e teorizaram que, retornando-se ao ensino bíblico puro e simples, haveria unidade na igreja.
Foi assim que começou uma busca pela verdade que resultou num dos maiores movimentos na História da Igreja. Earl West inicia seu trabalho monumental, The Search for the Ancient Order, com a seguinte sentença:
“Pouco depois da virada do Século XIX várias forças estavam a atuar nos círculos religiosos americanos, apontando para uma restauração do cristianismo apostólico”.
Nós já havíamos visto que o Movimento da Reforma falhou em trazer os resultados desejados ou em fazer progresso suficiente para um retorno à igreja do Novo Testamento. Os reformadores tinham em mente reformar a única igreja existente em seu ambiente geográfico: a igreja católica romana. Contudo, como sabemos, o resultado foi, inevitavelmente, o início de muitas novas denominações religiosas.
Neste caso, ocorreu um problema já previsto no ensino de Jesus. Não se pode colocar um remendo novo numa roupa velha (cf. Mateus 9.14–17). A tentativa de “reformar” o catolicismo degenerado gerou muitos protestantismos diferentes.
O chamado Movimento da Restauração parte do pressuposto que a Reforma não atingiu seus objetivos principais. Ele acredita que é necessário uma “busca dos antigos caminhos” e não apenas reformar os atuais.
As primeiras tentativas
Nenhuma data firme e fechada pode ser estabelecida para o início deste movimento. Na verdade, alguém pode encontrar grupos muitas vezes insignificantes, pequenos, muitos anos antes deste movimento realmente começar.
Um movimento independente na Inglaterra em 1669, durante o reinado de Carlos II, no Distrito de Lancashire, gerou um pequeno grupo de oito “Igrejas de Cristo”. A maior parte destas igrejas não persistiu até hoje, mas um livro oficial destas igrejas mostra que eles: (i) se chamavam “igrejas de Cristo”, (ii) celebravam a ceia semanalmente; (iii) batizavam por imersão, e (iv) tinham presbíteros e diáconos.
Este movimento deve ter sido o divulgado por John Davis, em 1735, no Quinto Distrito da Escócia. Este evangelista pregava um cristianismo puro baseado no Novo Testamento.
Em 1804, igrejas independentes se reuniam em Dungannon e Allington, na Irlanda, chamando-se igrejas de Jesus Cristo.
Um movimento maior e mais influente foi o iniciado por John Glass12 (1695-1773). Ele decidiu, desde o início de seu ministério, pautar-se apenas pela Bíblia em sua vida e trabalho ministerial na Escócia, entre as igrejas presbiterianas. Contudo, quando observou a falta de base bíblica para a intervenção do Estado na igreja e para o envolvimento da igreja nos assuntos do Estado, logo foi se afastando a igreja presbiteriana, que era estatal.
A polêmica de Glass com a igreja estatal de seu tempo ampliou-se e ele viu que muitas das práticas da igreja estavam aquém do que era ensinado no Novo Testamento.
Assim, ele acabou sendo intimado ao silêncio (1726) e depois deposto (1728) de seu cargo como ministro da Igreja da Escócia, que era a Igreja Presbiteriana. Mais tarde, a Assembleia Geral da Igreja revogou esta medida (1739), mas não o realocou na igreja estatal, concedendo, assim, uma certa permissão às igrejas congregacionais como as que ele agora desenvolvia.
A data de sua deposição, 1728, é usada como referência para o movimento que foi chamado de “Glassita”, mas que, na verdade, era um movimento de “restauração” da igreja do Novo Testamento na Escócia do início do Século XVIII.
Robert Sandeman13 (1718-1771) tornou-se genro de John Glas e um grande divulgador de suas ideias. Na verdade, ele ajudou o movimento escocês de Glas entrar na Inglaterra e, depois, na América do Norte. Sandeman, além das mudanças religiosas propostas por Glas, foi além discutindo e refutando doutrinas calvinistas.
Mais tarde, em cerca de 1795, J. R. Jones levou este movimento também foi para o País de Gales, formando uma série de igrejas independentes. O seu sucessor, David Lloyd, era parente do famoso primeiro ministro da Inglaterra, David Lloyd George. A igreja cresceu rapidamente em Gales, permanecendo fiel ate agora e, mais tarde, identificando-se com o movimento de restauração norte-americano.
Alexander Carson15 (1776-1844) de Tubermore, Irlanda, iniciou em 1807 um movimento independente de restauração. Afiliou-se aos batistas ingleses e fez contribuições para o retorno ao cristianismo bíblico.
Também os evangelistas e pregadores Robert Haldane (1764- 1842) e James Haldane (1768-1851), embora fossem teologicamente descendentes de Glas e Sandeman, mantiveram-se separados deles e empreenderam um ministério de restauração da igreja mais abrangente e duradouro que aqueles. Isto se deve ao fato que Glas e Sandeman fossem mais ligados ao ministério de ensino e ao cuidado do rebanho enquanto que os Haldanes fossem mais missionários e evangelísticos.
Assim, a ideia de um retorno ao cristianismo bíblico e neotestamentário já estava na agenda de muitos e muitos cristãos em todos os séculos. O mais amplo e influente Movimento de Restauração começou no fim do Século XVIII e no início do Século XIX.
O Movimento da Restauração
Como já vimos, muitas influências convergiram no começo e contribuíram para o sucesso deste movimento. O grito reformador “Sola Scriptura”, “Somente as Escrituras” que perpassa a história dos pré-reformadores, dos reformadores e de todos os reavivamentos, contribuiu para o sucesso deste movimento, pois o apelo dos restauradores sempre foi este: retornar às Escrituras.
O movimento veio a ganhar forma definitiva quando vários grupos brotaram em toda parte nos Estados Unidos, oriundos de quase todas as principais confissões religiosas americanas.
James O’Kelly – um metodista buscando liberdade
As primeiras grandes tentativas de restauração foram as reformas de James O’Kelly. Ele nasceu em 1735, em Tidewater, na Virginia e faleceu em 1826, no Condado de Chatham, na Carolina do Norte.
Ele era ministro da Igreja Metodista na época em que Francis Asbury foi apontado superintendente (cerca de 1790). Asbury era uma pessoa difícil e autoritária. Numa conferência geral em Baltimore, em 1º de novembro de 1792, James O’Kelly fez um apelo para que aos ministros fosse dado o direito de recorrer à Conferência caso a sua designação ministerial não fosse do seu agrado. Asbury e outros com ele rejeitaram este apelo, fazendo com que O’Kelly e seus seguidores se retirassem da Conferência Metodista fundando a Igreja Metodista Republicana, onde esta última palavra significa “livre”.
Em seguida à sua saída, eles vieram a se estabelecer como a Igreja Cristã em agosto de 1794. Eles adotaram os “Princípios Cardeais da Fé Cristã”, de acordo com os quais eles foram dali em diante guiados. Estes princípios são:
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O Senhor Jesus é o único Cabeça da Igreja.
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O uso no nome “cristão” em exclusão a todos os nomes partidários e sectários.
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A Bíblia Sagrada, ou as escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, o único credo e suficiente enquanto regra de fé e de prática.
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Caráter cristão, ou piedade vital, o único teste da igreja para ser a ela associado e membro.
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O direito a julgamento privado e à liberdade de consciência, enquanto privilégio e dever de todos.
Este movimento esteve ligado a outros personagens do Movimento da Restauração, contribuindo para o retorno às práticas do cristianismo bíblico. Em 1810, o grupo de O’Kelly uniu-se aos grupos de outros restauradores, Campbell e Elias Smith. O grupo foi chamado de “Conexão Cristã” ou “Igreja Cristã”.
Por outro lado, o parte do movimento de O’Kelly, em 1856, formou a “Convenção Cristã Sudoeste” que mais tarde, em 1931 mesclou-se com a Igreja Congregacional para formar a Igreja Congregacional Cristã. Esta, por sua vez, em 1957 uniu-se com a Igreja Evangélica e Reformada para gerar a Igreja de Cristo Unida.
James O’Kelly nunca aceitou a necessidade de ser imerso, pois tinha recebido o “batismo” por aspersão. Ele foi um dos primeiros teólogos da América do Norte a escrever contra a escravidão negra. Sua obra “Ensaios sobre a escravidão do negro” (Essays On Negro Slavery) foi publicado em 1789.
O pensamento de O’Kelly de resistência aos que usurpam do poder e o desejo de uma igreja mais bíblica são pontos de vista que contribuirão e encontrarão eco em muitos outros ministros do Movimento de Restauração.
Abner Jones e Elias Smith – cristãos somente
A próxima tendência mais antiga rumo à restauração foi iniciada pelo Dr. Abner Jones (1772-1841) e por Elias Smith (1769- 1846).
Abner Jones, era um médico do estado de Vermont, tornou-se descontente com os nomes e credos humanos. Começou a pregar, entre as igrejas batistas, que as distinções denominacionais deviam ser abolidas. No ano de 1800, estabeleceu uma igreja nos princípios da restauração.
Smith começou a preparar-se para pregar em novembro de 1789. Em 1801, ele começou a duvidar algumas ideias calvinistas da igreja batista para a qual ele pregava. A partir daí, ele e quatro outros começaram a se reunir em dezembro de 1802.
Em 1803, Smith conheceu Abner Jones e, juntos, eles elaboraram artigos para uma igreja em uma “Conferência Cristã”. Em 1805, eles deixaram da conferência e também os artigos como sendo sem utilidade. Em 1º de setembro de 1808, Smith publicou o. “Arauto do Evangelho” (Herald of the Gospel) com 274 assinantes, e que ele dizia ser o primeiro periódico religioso do mundo. Provavelmente, foi o primeiro dos Estados Unidos, mas não o primeiro do mundo.
Earl West sugere que, “Este movimento de Nova Inglaterra … deve sua significação primária ao fato que homens e mulheres estavam mirando na direção da ordem das coisas do Novo Testamento e afastando-se do sectarismo. Que eles não tenham ido longe o suficiente é apenas esperado quando se leva em consideração a tendência natural. Pois naqueles dias eles estavam atravessando uma rota não-mapeada. Eles estavam repensando o caminho que trilhavam.”
Este movimento merece destaque por eles terem rejeitado qualquer nome além de “cristão” e terem lutado pela aceitação “apenas da Bíblia” como sua autoridade. Smith e Jones pregaram muito logo após o estabelecimento do movimento, mas eles não permaneceram muito tempo em um só lugar. Smith esteve envolvido com o Universalismo em várias ocasiões, mas isto não tira os méritos de seus progressos.
John Wright – um batista bíblico
Na fronteira dos Estados Unidos os princípios da restauração foram espalhados em todo lugar. No ano de 1810, João Wright, um pregador batista, começou a organizar, na fronteira, igrejas batistas sem credo humano, afirmando que as Escrituras seriam suficiente para a organização da igreja e o comportamento dos membros. A sua associação “batista” foi dissolvida, a favor de um apelo pela unidade cristã, baseada apenas nas Escrituras. Quinze Congregações alemãs além de muitas igrejas batistas, uniram-se a este movimento. Um total de mais de 3.000 pessoas, de quatro seitas diferentes, foi acrescentado ao movimento.
Barton W. Stone – um presbiteriano bíblico
Em 24 de outubro de 1772, em Port Tobacco, Maryland, Barton Warren Stone nasceu. Ele estava para figurar proeminentemente na restauração do Cristianismo do Novo Testamento. A mãe de Stone fez com que ele fosse batizado por aspersão na Igreja da Inglaterra quando criança, mas, cedo na vida, ele tornou-se quase totalmente indiferente à religião.
Seu pai morreu cedo, e Barton usou sua parcela da herança para sua educação. Sua mãe tentou fazer com que ele se interessasse pelo metodismo. Através de seus colegas de escola na Escola de David Caldwell na Carolina do Norte, para onde sua mãe o havia enviado, ele escutou James McGready, um ministro presbiteriano, e ele finalmente se converteu. Em 1796, Stone recebeu licença para pregar. Da data de sua ordenação em 1798, ele foi perguntado, “Você recebe e adota a Confissão de Fé contendo o sistema de doutrina conforme ensinado na Bíblia?” – ao que ele respondeu, “Sim, na medida em que eu a vir como consistente com a Palavra de Deus.”
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Jurou apoiar a “Confissão de Fé de Westminster” credo oficial da igreja presbiteriana, ressalvando que ela deveria estar coerente com a palavra de Deus.
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Preocupava-se, terrivelmente, ao tentar harmonizar as doutrinas do Calvinismo com o amor descrito na Bíblia.
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Por fim, rejeitou as doutrinas da depravação total e do fatalismo inerentes ao calvinismo.
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Começou a pregar, conclamando a todos a deixarem o pecado e aceitarem a Cristo independentemente de seu estado de pecado em relação à Deus.
Um dos maiores eventos na vida de Stone foi o Encontro Cane Ridge. Em agosto de 1801, 20 a 30 mil pessoas reuniram-se para dirigir um grande reavivamento. A campanha foi, dirigida por evangelistas de diversas denominações. O elevado nível de cooperação entre os evangelistas participantes da campanha mostrou para Barton o grande valor e a possibilidade da unidade cristã.
Stone, nesta campanha, ensinou que o evangelho era universal e que a fé nele iria salvar. Isto era um ataque contra a doutrina presbiteriana da eleição. Sua pregação sobre a necessidade de aceitar a todos os pecadores no cristianismo precipitou a oposição de muitos líderes calvinistas. Apesar disto, alguns se uniram a ele. Entre os quais: Richard McNemar, John Thompson, John Dunlavy, Robert Marshall e David Purviance.
Ele foi chamado diante do Presbitério de Washington para responder por seus ensinos. Stone e os outros retiraram-se do Presbitério de Washington e estabeleceram o Presbitério de Springfield.
Neste ponto, nas mentes destes homens não havia intenção alguma de afastamento do presbiterianismo. O grupo frouxamente organizado e informal parece não ter tido administradores ou mesmo igrejas “afiliadas”. Ao invés disso, o Presbitério de Springfield era um grupo de ministros que visavam a reforma de suas mentes. Eles estavam basicamente atacando a teologia calvinista da Igreja Presbiteriana e qualquer forma de uniformidade de credo que viessem a ser imposta sobre as pessoas.
Menos de um ano depois dos tempos de seu afastamento do Presbitério de Washington, eles viram que a organização de outro presbitério não era a solução para o problema.
Por seguirem apenas princípios bíblicos, ao reestudar sua posição doutrinal e prática perceberam que tinham que abandonar muitas doutrinas falsas incluindo a existência de um presbitério governamental sobre todas as igrejas não tinha autoridade bíblica. As melhores raízes do Movimento de Restauração sempre fugiu das estruturas hierarquizantes e dominantes, para permitir o reinado de Jesus e não de homens.
Assim, em 28 de junho de 1804, eles publicaram A Última Vontade e Testamento do Presbitério de Springfield. Este foi o fim do Presbitério de Springfield. Entre as palavras desse documento, destacam-se as seguintes declarações:
-Item 1: Resolvemos que este corpo morra, seja dissolvido e desapareça, entrando em união total com o corpo de Cristo; porque há apenas um corpo e Espírito…(Efésios 4.4-6).
-Item 2: Resolvemos que o nome designativo de nosso grupo seja esquecido, para que haja apenas um Senhor e um nome (Cristo e cristão) entre os fiéis.
-Item 3: Resolvemos que nosso poder de decretar leis para o governo da igreja, e de executá-las através da autoridade delegada, cesse para sempre; para que o povo tenha livre acesso à Bíblia e adote a lei do Espírito… em Cristo Jesus.
-Item 4: Resolvemos que, de agora em diante, a Bíblia seja aceita como o único guia dos Céus.
Após a dissolução do Presbitério de Springfield, os homens foram cortados definitivamente da Igreja Presbiteriana. Já haviam passado dez anos desde que Rice Haggard havia sugerido a James O’Kelly que usasse o nome “cristão” e que excluísse todos os outros nomes partidários ou sectários.
Eles começaram a organizar igrejas, insistindo que cada igreja permanecesse independente. O movimento de Stone era um movimento de libertação.
O Dr. Barton W. Stone resumiu a importância da sua separação da Igreja Presbiteriana nestas palavras:
“Quando nos afastamos daquela igreja, sentimo-nos livres de todos os credos, exceto a Bíblia. Desde aquele tempo, através da aplicação dedicada da Bíblia, afastamo-nos cada vez mais de credos e confissões padrões oficiais. Consequentemente, submissão à jurisdição daquela igreja nos é agora inteiramente irracional”.
Por algum tempo, o grupo não aceitou a forma e o propósito bíblicos do batismo. Porém, em 1807, Robert Marshall convenceu-os que o modo bíblico do batismo era a imersão. Ele convenceu Stone e os outros, e eles foram todos imergidos em junho de 1807. Esta prática não foi transformada em teste de fraternidade para ser membro do grupo por muitos anos.
O movimento que foi iniciado pelos Campbells em outra região dos Estados Unidos estava tendo grande sucesso. Todavia, eles não tiveram contato um com o outro por muitos anos. Foi em 1824, em Georgetown, Kentucky, que eles se encontraram pela primeira vez. Quando eles compararam suas ideias, foi impressionante o quão similares eles estavam em pensamento. Em 24 de abril de 1831, as duas igrejas agruparam seus esforços para restaurar o Cristianismo do Novo Testamento. Stone é bem conhecido por haver editado o Christian Messenger por muitos anos. Ele morreu em 9 de novembro de 1844, em Hannibal, Missouri, na casa do seu genro, o capitão Samuel Bowen. Seu corpo foi a princípio sepultado em Hannibal, mas foi mais tarde transferido para Cane Ridge. Em anos recentes, um grande monumento foi erigido em memória de Stone. Ele certamente deve ser respeitado por sua fé e coragem e pela contribuição que ele fez na busca pela “ordem antiga das coisas”.
O progresso da Restauração
Muitas pessoas lançaram os fundamentos e desenvolveram o movimento da Restauração antes da família Campbell entrar em cena e fazer sua contribuição. Uma compreensão errônea que alguns têm tido é que Thomas e Alexander Campbell deram origem, lideraram e controlaram o Movimento da Restauração. Tal noção é falsa. Eles foram influentes e, no caso de Alexander Campbell, seu legado literário e intelectual foi maior do que todos os outros ministros, mas seu trabalho era de síntese e não de comando.
James O’Kelly, Abner Jones, Elias Smith e Barton W. Stone deram grandes contribuições independentes para o Movimento de Restauração sem qualquer dependência dos Campbell. A própria família Campbell foi influenciada por pensadores e pregadores anteriores de modo que sua contribuição também é devedora a outros, antes deles. No fim das contas, percebemos que Deus usa os homens que se dispõe para seu serviço, mas nenhum homem deve receber o crédito pelas obras que Deus faz.
Os Campbells – evangélicos buscando a fé bíblica Thomas Campbell nasceu em 1º de fevereiro de 1763, em County Downs, na Irlanda. Ele é descrito como “um crítico severo, um disciplinador gentil e um erudito dedicado”32. Estas características contribuíram para o treinamento de seu ilustre filho, Alexander. Thomas era um professor de escola, mas ele é mais conhecido por seu trabalho como pregador numa facção da Igreja Presbiteriana.
O fato de que ele era associado a este ramo em particular da Igreja Presbiteriana é significativo para que se sua mente formasse com desfavor em relação a divisões religiosas. Também é bom lembrar que o próprio presbiterianismo escocês era, por natureza, arredio aos controles governamentais e hierarquizantes em excesso. 34 Sobre as divisões da igreja escocesa, lemos:
“Já em 1800 havia duzentas Congregações da facção Seceder na Escócia. Entretanto os bons ventos para os Seceders não durariam muito, porque a divisão viria a ser uma característica deles. Em 1789 os Seceders dividiram-se em Burghers e Anti-Burghers na questão de os burgueses fazerem um juramento. Os burgueses das cidades exigiam juramentos vinculando as pessoas ao apoio à religião praticada naquela região. Aqueles que consideraram o juramento ilegítimo foram os Anti-Burghers. Em 1799 ambos os ramos da Igreja Seceder dividiram-se novamente em Luzes Novas e Luzes Antigas na questão sobre se a Solemn League and Covenant (‘Acordo e Liga Solenes’) deveria se tornar uma condição para a comunhão. Thomas Campbell era um “Anti-Burgher Luz Antiga na Igreja Presbiteriana Seceder”. Portanto ele já estava bem familiarizado com a divisão religiosa.”
Devido à saúde precária, os médicos de Thomas Campbell recomendaram que ele viajasse, esperando que sua família seguisse depois. Ao chegar nos Estados Unidos da América no início da primavera de 1807, Thomas requisitou uma licença para pregar com o Sínodo da América do Norte. Ele recebeu sua licença e foi designado para o Presbitério Chartiers no oeste da Pensilvânia.
Thomas havia estudado a Bíblia cuidadosamente e começou a ensinar a Bíblia ao ponto de negar certas doutrinas presbiterianas. Ele foi exonerado do Presbitério em 13 de setembro de 1808. Com isto, nós o deixamos no presente para retornar à Escócia para falar do restante da família dele.
Alexander Campbell (1788-1866) nasceu em Newry, no norte da Irlanda. Ele era habilidoso mental e fisicamente, e destinado a tornar-se um erudito e pensador religioso de rara qualidade nos Estados Unidos da América.
Thomas chamou sua família para unir-se a ele na América em 1808, mas as coisas se complicaram. As condições na Irlanda eram tais que a viagem deles teve de ser atrasada por seis meses. Quando eles zarparam em 28 de setembro de 1808, sofreram atrasos por conta de tempestades, e mesmo quando finalmente alcançaram o mar, eles enfrentaram naufrágio. Foi durante estes dias que Alexander resolveu-se a passar sua vida pregando.
Ao retornar para a Escócia para aguardar mais oportunidades para partir para a América, Alexander passou tempo na Universidade de Glasgow estudando Grego, Lógica e outros estudos das Artes Liberais. Estes dias se provaram muito vantajosos para ele, pois ele conheceu muitas pessoas que tiveram muito a ver com seu desenvolvimento futuro.
Em Glasgow entrou em contato com os irmãos Haldane e outros que falavam da independência religiosa e a autoridade do Novo Testamento. Reuniam-se regularmente e Alexander aceitou muitas das ideias deste grupo sobre a unidade cristã.
“A Declaração e Palestra”
West diz, “Em 31 de julho de 1809, Alexander Campbell deixou Glasgow e foi para Greenock. Quatro dias mais tarde, ele e sua família estavam no navio Latonia, em direção aos Estados Unidos da América. Desta vez a viagem seguiu tranquila, e o navio atracou em Nova York na sexta-feira de 29 de setembro.”37
Na chegada de Alexander Campbell aos Estados Unidos, Thomas havia formulado um documento conhecido como “A Declaração e Palestra” (The Declaration and Address) da Associação Cristã de Washington.
Thomas mostrou a Alexander as cópias da prova de impressão da palestra. De forma bastante surpreendente, Alexander havia chegado às mesmas conclusões na Irlanda enquanto seu pai as alcançava a América. Depois de ler a “A Declaração e Palestra” de seu pai, Alexander contou-lhe suas intenções de tornar-se um pregador do evangelho. Em 1809 os Campbells estavam começando a tomar os passos que viriam a ter efeitos duradouros sobre o Movimento da Restauração.
Uma frase sempre repetida por Thomas Campbell no fim de suas palestras tornou-se um lema do Movimento: “Falar onde a Bíblia fala e calar onde a Bíblia cala”.
Várias influências foram importantes para Thomas Campbell chegar aos pensamentos que manifestou no inicio do Movimento da Restauração:
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As igrejas independentes, chamadas de “glassistas”, o trabalho de Robert Sandaman e dos irmãos Haldane influenciaram o pensamento de Thomas. Ele visitou várias vezes a congregação independente, de Rich Hill, a qual celebrava a Ceia do senhor semanalmente, contribuía aos pobres e era muito unida em espírito e em amor.
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Também as pregações evangélicas da época de Whitefield (evangelista famoso e muito zeloso), João Wesley (fundador da Igreja Metodista) e outros influenciaram Campbell. Em 1797, James Haldane e outros estabeleceram uma sociedade para a promulgação do Evangelho. O Dr. Thomas tornou-se membro da sociedade, pregando em várias comunidades, enfatizando reverência pela Bíblia, sendo ela “o único guia na religião”.
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O espírito sectarista na Irlanda produziu um efeito contrário em Cambpell: ele queria unir os cristãos. Havia muito conflito entre as denominações, além das muitas divisões na própria igreja Presbiteriana, a qual contou, pelo menos, 14 seitas diferentes. Campbell era tolerante, amável e espiritual. Por isso, as divisões e a intolerância nas igrejas perturbaram-no tremendamente. Por exemplo, os membros de uma seita poderiam ser expulsos por, simplesmente, assistirem ao culto de uma outra seita da mesma denominação.
Assim, Campbell é fruto do trabalho de Deus por meio de muitos obreiros e circunstâncias, para a promoção de uma vivencia cristã mais digna do nome de Jesus.
Alguns dos princípios básicos de “A Declaração e Palestra” são:
a) Há, no mundo, apenas uma igreja de Jesus Cristo.
b) Não deveriam existir quaisquer divisões na religião.
c) Nada deveria ser ensinado, como condições de fé ou termos de comunhão, exceto aquilo que nos é ordenado expressamente pela Palavra de Deus.
d) O Novo Testamento é a constituição para o louvor, a disciplina e o governo da Igreja do Novo Testamento.
e) Se as Escrituras permanecem silenciosas sobre um tópico, nenhuma autoridade humana tem o direito de decretar leis concernentes a este ponto.
f) Aqueles que se sentem perdidos e têm vontade de confessar a sua fé em Cristo e obedecer a Sua Palavra, devem ser admitidos na Igreja.
g) As experiências humanas podem ser necessárias ao cumprimento de um mandamento bíblico, mas nunca deveriam ser adotados na Igreja através de contendas ou imposição.
“A Declaração e Palestra” (The Declaration and Address) teve grande circulação e influenciou grandemente o movimento. Todavia, o filho de Thomas Campbell, Alexander, estava para tornar-se ainda mais proeminente do que seu pai no movimento.
Alexander pregou seu primeiro sermão em 16 de setembro de 1810, no local da Igreja Brush Run. Em 12 de março de 1811, ele casou-se com Margaret Brown, e a primeira criança do casal, uma menina, nasceu dia 13 de março de 1812. O nascimento da sua filha, Jane, fê-lo começar a ponderar o assunto do batismo de infantes. Ele logo convenceu-se da não-biblicidade do batismo de infantes, e em 12 de junho de 1812, Alexander e outros três foram imergidos para a remissão dos pecados por um pregador batista de nome Matthias Luce. Naquele outono, a Igreja Brush Run, da qual praticamente todos os membros foram logo imergidos, juntou-se à Associação Batista Redstone. Porém, essa associação eventualmente veio a ser dissolvida e movimento prosseguiu “por conta própria” dali em diante porque eles queriam ser livres para fazerem o que eles pensavam que o Senhor aprovaria.
Atividades Literárias
Alexander era destacado enquanto acadêmico, escritor e polemista. Ele estudava com afinco, levantando “toda manhã às 4 horas, trabalhava continuamente até as 10 da noite.” Também se tornou um estudioso de renome mundial. Quando ainda jovem, falava, lia e escrevia grego, francês, latim e hebraico. Decorava maciços volumes sobre literatura e história.
Alexander Campbell foi um evangelista e orador poderoso. Ele tinha o privilégio de ter sido o único evangelista na história norte- americana a pregar o Evangelho publicamente para o Congresso dos Estados Unidos. O presidente americano James Madison, o senador Henry Clay e outros observaram: “Consideramo-lo o mais capaz e criativo expositor das Escrituras que já ouvimos”.
Tinha uma grande capacidade de trabalho, demonstrada pelas suas muitas ocupações.
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Redator de revistas mensais durante 25 anos.
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Fundador e presidente de uma escola e posteriormente, de uma universidade cristã.
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Evangelista dedicado, pregando uma média de 4 vezes por semana.
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Autor de 60 livros, inclusive de uma nova versão do Novo Testamento.
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Viajante incansável, fazendo pelo menos duas longas viagens evangelísticas por ano. (Na época, tais viagens eram feitas geralmente a cavalo).
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Participante na formulação das constituições oficiais de dois estados e na organização inicial de um outro estado norte americano.
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Extraordinário fazendeiro, tornando-se o homem mais rico do seu estado. Sustentava-se, a si mesmo, na pregação do Evangelho.
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Ele foi um debatedor de sucesso. Tomou parte de cinco grandes: com John Walker, um presbiteriano, no inverno de 1819; com W. L. McCalla, um presbiteriano, em 1823; com Robert Owen, um brilhante agnóstico, em abril de 1829; com o bispo católico Pursell, em janeiro de 1837; e, com N. L. Rice, um presbiteriano, em novembro de 1843.
Alexander era também um grande escritor e editor. Ele escreveu bom número de livros que lidavam com os princípios do Movimento da Restauração. Porém, os seus escritos mais influentes foram os periódicos religiosos que editava.
De 1823 a 1829, ele editou um periódico intitulado “O Cristão Batista” (Christian Baptist). Este teve uma grande influência, mas por causa da tendência à identificação com os batistas, dos quais ele havia se desassociado, foi decidido encerrar a publicação deste periódico.
De 1830 a 1866, ele editou o “Aurora do Milênio” (Millenial Harbinger), num impressionante esforço jornalístico. O título do jornal mostra que ele era “pós-milenista”, ou seja, cria que o milênio seria instalado na terra pelo gradual e progressivo avanço do evangelho e da prosperidade da sociedade.
Em 1841, Alexander tornou-se presidente do Bethany College, escola que ele havia estabelecido em sua própria casa. Ele educou muitas pessoas naquela instituição, que ainda existe.
Ele tentou trabalhar de dentro das igrejas existentes para restaurá- las, mas quase todas suas tentativas foram frustradas. Conseguiu restaurar apenas algumas congregações, e afinal, viu-se forçado a iniciar novas igrejas independentes, unindo-as em um corpo de irmãos. Assim foi acusado de estabelecer mais uma denominação. Por isso, os membros daquelas novas congregações foram chamados de “campbelistas”, seguidores de Campbell. Respondendo a essa acusação escreveu:
“Eu não tenho a mínima intenção de acrescentar, à interminável lista de seitas, mais uma denominação… Trabalho para ver o sectarismo abolido e todos os cristãos, independentemente do nome que usam, unidos por um único alicerce em que foi fundada a igreja apostólica… Mas, ligar-me com quem quer que me exija o sacrifício de qualquer item da verdade revelada, de aceitar qualquer credo de origem humana, ou de proibir-me tornar públicos os meus sentimentos, conforme a discrição e a consciência está … muito longe dos meus desejos e é incompatível com o meu ponto de vista.”
Alexander Campbell morreu em 4 de março de 1866, mas sua influência seria sentida por muito tempo. Ele morreu como um homem próspero e nunca recebeu remuneração por seu trabalho como pregador, era um fazendeiro rico.
Durante sua longa vida, ele participou muito ativamente no crescimento do Movimento de Restauração, levando para Cristo, no inicio, apenas algumas famílias e chegando ao fim da vida contando aproximadamente 300.000 seguidores de Cristo neste novo movimento.
Seu alvo e propósito de trabalho era:
“… a restauração do plano original de Cristo (no Novo Testamento) abrange tudo aquilo que é contemplado pelos sábios discípulos do Senhor; pois eles concordam que isso é tudo o que falta para a perfeição, felicidade e glória da comunidade cristã. Contribuir para esta meta é nosso ardente desejo… Entretanto, ao tentar isso, devemos observar que é a obrigação de todos eliminar da sua fé e prática tudo o que não se encontra no Novo Testamento do Senhor Jesus Cristo, bem como, crer e praticar tudo o que nele se encontra. Assim, o que deve ser feito será feito.”
Outros Grandes Restauradores
Outros ajudaram muito ajudaram muito na formação das ideologias e das atividades do Movimento nas décadas que se seguiriam. Na década de 1820, Walter Scott (1796-1861) foi muito proeminente no movimento.
Depois de aceitar os princípios da restauração, tornou-se um grande evangelista. Foi enviado à fronteira dos Estados Unidos , na região de Ohio, para evangelizar. Sentiu que a restauração precisava de uma mensagem clara sobre a conversão. Estudou o livro de Atos, descobrindo que há, na Bíblia, um plano completo para conversão. Ensinando fé, arrependimento, confissão e batismo, alcançou grandes resultados – 1.000 batismos durante o primeiro ano de pregação lá.
Ele editou um periódico, intitulado “O Evangelista” (The Evangelist), e trabalhou bastante perto de Alexander Campbell. Ajudou na dissolução de toda organização hierárquica cristã, para aperfeiçoar a restauração da igreja original. Em 1830 foi dissolvido o último órgão oficial ainda existente no Movimento de Restauração.
“Raccoon”44 John Smith (1784-1868) nasceu no Estado de Kentucky, Estados Unidos. Contemporâneo de Barton W. Stone e Alexander Campbell, sobrevivente a ambos. Durante muitos anos foi um dos poderosos evangelistas da igreja Batista. Sendo fazendeiro, pagava suas próprias despesas, viajando em todo o estado de Kentucky e vários outros estados, pregando o Evangelho. Ele era colega do Dr. Barton Stone, aceitando muitas de suas ideias sobre restauração e unidade. Por isso, acabou aceitando a ideia de ser somente cristão e de buscar a unidade e a restauração da igreja neotestametária
Foi um dos que ajudaram a promovera a união dos movimentos dirigidos por Barton Stone e Alexander Campbell. Em uma reunião histórica entre esses dois grupos em 1832, John Smith foi o primeiro orador, dizendo o seguinte: “…pela causa da paz e da união cristã, eu deixei, há muito tempo, de apoiar publicamente a qualquer especulação particular, mas por outro lado, jamais abrirei mão de sequer um fato, mandamento ou promessa do Evangelho…” “Que nós, meus irmãos, não mais sejamos campbelistas, Stonistas, Luzes Novas, Luzes Velhas ou qualquer outro tipo de luz, mas pelo contrario, que venhamos à Bíblia, por ser ela o único livro no mundo que nos pode fornecer toda a luz que precisamos.”
Tolbert Fanning (1810-1874) foi um pregador e diretor de uma faculdade cristã em Nashville. Era um estrito conservador no seu restauracionismo. Influenciou David Lipscomb (1831–1917) com o qual trabalhou. David Lipscomb foi fundador da Universidade Cristã de David Lipscomb. Lipscomb foi o editor da revista “Advogado do Evangelho”, “Gospel Advocate”, que foi a mais conservadora do movimento de restauração. Ainda durante a vida de Alexander Campbell, Lipscomb se opôs às sociedades missionárias e à música instrumental que estavam sendo introduzidas nas igrejas. Lipscomb foi um pacifista e um anti- governista no sentido de ser contra todos os tipos de hierarquia dentro e fora da igreja.
Outros trabalhadores para a seara
Houve muitas outras pessoas que exerceram uma grande influência no movimento. Homens tais como John T. Johnson (1788-1856) foi evangelista, autor e coordenador da união entre as forças de Barton e Alexander.47 Jacob Creath – ex-pregador batista. Robert Richardson – genro e autor da biografia sobre a vida de Alexander. Benjamim Franklin – escritor e evangelista. (Não deve ser confundido com o famoso filósofo e inventor). Moses Lard48 – escritor, redator de revistas e professor. Escreveu um comentário de Romanos49 muito elogiado. J. W. McGarvey (1829-1911) – evangelista, mestre e escritor, chamado durante sua vida, “com toda probabilidade… o melhor mestre bíblico do mundo”.50Robert Milligan – escritor e educador. Ashley S. Johnson – escritor e redator de uma revista. São muito citados também W. K. Pendleton,51 A. G. Freed e H. Leo Boles.
Todos se sacrificaram, muito corajosamente, para restaurar a igreja bíblica original em sua época, fazendo o que julgavam o melhor neste objetivo.
Depois da união em 1832 dos movimentos independentes de Barton Stone e Alexander Campbell, o movimento unido, cresceu muito rapidamente nos Estados Unidos, no Canadá e posteriormente, em outros países britânicos. Pelo ano de 1860, o Movimento havia ganho centenas de milhares de seguidores em toda parte dos Estados Unidos. Um dos seus detratores observou que no estado de Oregon, “as samambaias e os ‘campbelistas’ estavam conquistando todo o território”.
Progresso e retrocesso
Apesar do crescimento, o Movimento da Restauração tinha problemas internos que eclodiriam mais tarde: divisões iriam ocorrer no movimento que buscava unidade.
O Movimento cresceu por causa de vários fatores.
(i) Estava ocorrendo o chamado “Segundo Grande Despertamento” (1790- 1840)54, também chamado de “Segundo Grande Avivamento”. Este período foi marcado por grandes reuniões evangelísticas que duravam vários dias e levavam pessoas a ficarem acampadas para participar do evento. Estas reuniões produziram um desejo de unidade religiosa que o Movimento da Restauração pode concretizar. Era a “hora certa” para propor a unidade da igreja pelo retorno às Escrituras.
(ii) Outro fator importante foi a presença e atuação de homens como Campbell e Stone que ensinaram com convicção e erudição. Eles conseguiram catalisar um desejo da época – eles eram “as pessoas certas” para mobilizar o povo de Deus.
Muitas ferramentas foram usadas para promover o movimento. A imprensa foi largamente empregada na impressão de periódicos religiosos, bem como na publicação de livros e panfletos. Um grande número de periódicos religiosos pode ser contabilizado naquele período.
Os debates sobre as questões que dividam o mundo religioso contribuíram grandemente para o êxito do movimento. Alexander Campbell participou de vários debates, mas muitos outros foram feitos e promoviam a causa da unidade de da restauração.
A pregação teve um papel importante. Nem todos os pregadores tinham exatamente o dom de pregar, mas eram devotados. Rigorosos programas de ensino nos lares e escolas que foram estabelecidos para a promoção da Palavra de Deus tiveram muita influência.
A educação religiosa dos ministros sempre foi uma preocupação do movimento que fundou muitas faculdades cristãs para o ensino da teologia.
Todavia, esses elementos para crescimento, também geraram alguns problemas, sobretudo de divisão do movimento.
Sociedade Missionária
Nós acompanhamos rapidamente o trabalho de Alexander Campbell ao longo da década de 1820 e adentrando a de 1830, quando ele conduziu debates, escreveu livros, e teve uma grande influência sobre o movimento crescente. Contudo, a influência dele, sem que percebesse, semeou uma discórdia que iria “rachar” o movimento nas décadasposteriores.
O primeiro problema surgiu do desejo de “organizar mais” a irmandade para fazer trabalho missionário. Campbell achava que isto era necessário para ter efetividade evangelística.
Pequenas “convenções e reuniões” começaram a ocorrer entre 1836 e 1842. Nas datas de 23 a 26 de outubro de 1849, na Christian Chapel (‘Capela Cristã’), em Cincinnati, Ohio, convocou-se uma assembleia geral para organizar a primeira sociedade missionária. Ela seria chamada “American Christian Missionary Society” (“Sociedade Missionária Cristã Americana”). Alexander Campbell, embora não estivesse presente, foi eleito como o primeiro presidente, e vinte vice-presidentes foram eleitos. Adicionalmente à Sociedade Missionária, a American Christian Bible Society (“Sociedade Bíblica Cristã Americana”) foi fundada por D. S. Burnet em Cincinnati, Ohio, em 1845. Ele também fundou a Sociedade Americana de Escola Dominical e Publicações. As duas últimas entidades eram distritais, mas a organização da Sociedade Missionária era nacional.
Por não aceitarem uma organização hierárquica, cuja autoridade seria maior que as igrejas, muitos se rebelaram contra este sistema. Outra razão para a rebeldia foi a pressão dessa organização para realizar seus projetos ambiciosos. O sustento financeiro provinha das congregações e por isso, elas foram pressionadas para sustentarem as sociedades.
O argumento da muitos cristãos conservadores era, desde que existe na Bíblia um plano completo para a organização das congregações e nenhuma menção de organizações hierárquicas, devemos seguir apenas o plano divino. Também, disseram eles, o trabalho missionário da igreja era realizado originalmente por cristãos enviados apenas pelas congregações individuais e não por organizações hierárquicas.
Música Instrumental
Pouco mais do que dez anos haviam se passado desde a fundação da primeira sociedade missionária até que outra questão fosse levantada. Era a respeito do uso de instrumentos musicais na adoração. A música instrumental começou a ser discutida em textos cedo já em 1851. Contudo, é impossível dizer onde e quando a música instrumental foi introduzida pela primeira vez na adoração no Movimento da Restauração.
Em 1860, L. L. Pinkerton, de Midway, Kentucky, escreveu para Ben Franklin, o editor do American Christian Review, afirmando que ele estava a defender a música instrumental no louvor, e que Midway era, na época, a única igreja a empregá-la.
Muitos artigos foram escritos, muitas batalhas batalhadas; mas a introdução destas “ajudas ao louvor” continuaram. Nós não poderemos apresentar aqui a história toda em detalhes, mas podemos recomendar ao leitor alguns trabalhos mais trabalhos que o fazem.
A questão não estava tão tensa no começo, mas ficou muito grave após a Guerra Civil Americana. West faz uma observação:
“Ficará aparente com clareza que a questão da música instrumental não teve um papel tão importante no pensamento da época quanto veio a sê-lo dali a uns tempos. Depois da Guerra, os instrumentos começaram a ser usados mais e mais, e a discussão a seu respeito começou a esquentar.”
Mais adiante West sugere que “em quase todos os casos em que os instrumentos foram introduzidos para a adoração, uma séria dissensão foi ocasionada”.
A Divisão Torna-se Realidade
Dizer exatamente quando a divisão tornou-se uma realidade não é possível por ela ter vindo tão gradualmente. Situações em certas localidades causaram “rachas” na irmandade mais cedo do que em outras. Porém, em 1906, a divisão já estava consumada. Os que preferiam se denominar ‘Igrejas Cristãs’ ou ‘Discípulos de Cristo’, foi o grupo que acolheu os instrumentos musicais e as sociedades missionárias.58 Em 1906 o recenseamento americano listou, separadamente as Igrejas de Cristo e as Igrejas Cristãs (ou Discípulos de Cristo) como organizações distintas. Desde esta data, não tem havido unidade orgânica entre as duas. Recentemente, contudo, os contatos já são mais fraternos e menos ríspidos de ambas as partes.
Muitas causas que levaram ou ao aceite das música instrumental e das sociedades ou à sua rejeição poderiam ser listadas. Um estudo do movimento mostrará que a divisão no Norte dos Estados Unidos estava mais fortemente a favor do grupo instrumental, e a irmandade no Sul dos Estados Unidos era de convicção mais conservadora.59
Embora os historiadores americanos nem sempre reconheçam, o que se diz, “à boca pequena” é que em muitas cidades, as igrejas com prédios mais bonitos ficaram com os instrumentos e os prédios mais pobres, ou como eles falam, “do lado errado dos trilhos” ficaram sem instrumentos. Provavelmente, o racha também era sócio-econômico- cultural. Os mais ricos queriam os instrumentos e os mais pobres não. As maiores e mais antigas faculdades e instituições ficaram com o pessoal da música instrumental e das sociedades missionárias.
Shipp afirma que entres os seguidores do movimento de Restauração havia dois extremos culturais e sociais. Os cristãos das principais cidades tinham um nível cultural mais elevado, procurando uma maior aceitação social e igrejas mais “sofisticadas” em louvor e prática. Outros, das vilas e do campo, cujo preparo era menor e cujo trabalho cristão era mais simples e direto, primavam pela simplicidade. Também, havia uma tendência liberal em doutrina no Norte dos Estados Unidos e no Sul, uma atitude mais conservadora, assim polarizando o movimento em duas principais áreas geográficas.
Morris M. Womack acredita que a força das revistas ou jornais cristãos foi decisava nestas questões. O Gospel Advocate influenciava o Sul e o Christian Standard influenciava o Norte. O Gospel Advocate se opunha fortemente aos instrumentos na adoração e às sociedades missionárias, e o seu editor era bastante verbal em sua oposição. O Christian Standard, por outro lado, estava a favor destas coisas. Assim, onde quer que cada periódico fosse, eles espalhavam os pontos de vista dos editores.
Os Discípulos concentraram-se no Norte e na costa Leste, enquanto que as Igrejas de Cristo ficaram mais no Sul e no Oeste. Infelizmente, esta ainda é a situação atual dos Estados Unidos. Os Discípulos, mais liberais, são fortes no Norte e na Costa Atlântica, sendo as Igrejas de Cristo, conservadores, mais poderosas no Sul e no Oeste.
Os mais liberais seguem mais a filosofia de Lutero: “Se a Bíblia não condena definitivamente uma prática, podemos utilizá-la.” Os conservadores seguem mais a atitude de que devemos praticar aquilo especificamente aprovado nas Escrituras.
Os problemas continuam dentro de cada grupo
Apesar da divisão, ambos os grupos, as Igrejas de Cristo e as Igrejas Cristãs, continuaram enfrentando novos problemas internos.
As Igrejas Cristãs passaram por ter duas tendências dentro de suas fileiras: (i) uma conservadora e (ii) uma liberal. Com o tempo, vai ser possível notar três grupos distintos dentro deste movimento: (i) a ala claramente liberal, representada pelos Discípulos de Cristo; (ii) o grupo “do meio” que endossa as sociedades missionárias e a música instrumental, e está disposto, até certo ponto, à irmandade com todos os elementos do movimento; (iii) e o grupo conservador, que se recusa a ser identificado pelo termo “Igreja Cristã”, mas usam os instrumentos musicais – muitos deles se chamam “Igreja de Cristo”.
O grupo mais liberal acabou mergulhando no Movimento Ecumênico ao ponto de perderem sua própria identidade teológica e doutrinária. Este movimento perdeu muitas pessoas e começou a decrescer. Eles acabaram provocando uma reação mais conservadora em seus irmãos.
Por causa desta tendência liberal, os Discípulos de Cristo se dividiram novamente na década de 1920-1930, resultando dos Discípulos de Cristo, muito liberais em vários aspectos e nas Igrejas Cristãs Conservadoras, conhecidas no Brasil como Igrejas de Cristo. Embora seja mais conservadora em doutrinas e práticas, há, em algumas das congregações, um sistema governamental derivado do denominacionalismo, com um só pastor. Há diferenças em opinião a respeito de musica instrumental nos cultos, de interpretação bíblica e também, de dons pentecostais e carismáticos na atualidade. São igrejas que aceitaram reintroduzir alguns elementos do mundo evangélico em seu meio.
Ao examinarmos a historia dos discípulos de Cristo, podemos ver, claramente os tristes resultados, quanto à divisão no corpo e às interpretações liberais das Escrituras.
Infelizmente, as Igrejas de Cristo também sofrem divisões até os dias de hoje, divisões estas, geralmente sobre a maneira de cumprir o trabalho da igreja e não sobre os pontos básicos doutrinais. Exemplos: Premilenialismo, anti-escola dominical (baseado principalmente na opinião de que a divisão em aulas é uma divisão espiritual do corpo), anti-cooperação, etc. (divisão entre os ultra-liberais e ultra- conservadores da própria igreja).
Hoje em dia, há novas divisões, onde se discutem: Dons espirituais, línguas estranhas, os métodos de trabalho da igreja e a prática de cultos em casas particulares, cujos participantes recusam a forma normal de cultos em templos, achando-a antiquada e muito formal.
No Brasil, na década de 1980 chegaram os primeiros missionários que representam o segmento mais retraído e conservador das igrejas de Cristo americanas.
Todos estes problemas têm sido experimentados durante a primeira metade do Século XX, e muitos deles durante o segundo quarto do Século.
Uma nova e grande divisão surgiu nas Igrejas de Cristo à partir das Décadas de 70 e 80. O chamado “Movimento do Discipulado” que era a adaptação de um movimento pentecostal chamado “Movimento do Pastoreio” foi trazido para as Igrejas de Cristo por meio de evangelistas que trabalhavam com universitários. Chuck Lucas foi o iniciador do movimento depois de 1967, mas foi Kip McKean que deu ao movimento sua dimensão mundial, à partir de 1979.
O movimento, a princípio, cresceu em comunhão com as Igrejas de Cristo. Apresentava estatísticas de crescimento da igreja incomuns e maiores do que qualquer movimento religioso do Século XX.
Depois, contudo, seu relacionamento com as outras “Igrejas de Cristo” tornou-se crítico. Suas doutrinas de “remanescente” e “reconstrução” das igrejas antigas gerou revolta e rejeição do movimento. Finalmente ele separou-se e diferenciou-se em doutrina e prática das outras igrejas. Chamou-se Igreja de Cristo Internacional.
Sua organização altamente hierarquizada e organizada finalmente implodiu em 2002 quando Kip McKean e sua esposa pediram demissão de sua posição no topo da pirâmide de autoridade do sistema, reconhecendo excessos na condução da igreja.
O gráfico abaixo, resume a história do movimento e suas grandes divisões.
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Cristãos
Stone
UNIDOS COM VÁRIOS NOMES
Igreja Cristã Discípulos de Cristo Igrejas de Cristo
Igrejas Cristas Igreja Cristã
Discípulos de Cristo
Independentes e
cooperativas
Igrejas Cristãs
Discí- pulos
Campbell
Igrejas de Cristo
Igreja de
Cristo Internacional
. 1800 1820 1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 .
No início, os movimentos de Stone e de Campbell se unem. Depois de um tempo de atividade conjunta, se separam. Nas Igrejas Cristãs, a nova grande divisão ocorre entre os Discípulos de Cristo e as Igrejas Cristãs. Nas Igrejas de Cristo, a divisão maior ocorreu com a Igreja de Cristo Internacional. Notemos, contudo, que dentro destas grandes divisões há subdivisões menores que não são apresentadas separadamente, mas que, na prática, funcionam como irmandades distintas.
Um Movimento Crescente
Com todos os seus problemas, o Movimento da Restauração ainda está a aumentar. As Igrejas de Cristo estiveram entre as igrejas que mais cresceram até a década de 60, na América do Norte. Hoje, as igrejas de Cristo, como muitas igrejas evangélicas, estão um pouco mais estagnadas. Pro outro lado, as Igrejas Cristãs, o grupo mais conservador dos Discípulos de Cristo, parecem estar com um bom crescimento por meio de um processo de plantio de igrejas.
Missões
As Igrejas Cristãs, por meio das Sociedades Missionárias já haviam empreendido missões logo no início de seu trabalho. As igrejas de Cristo, demoraram para entender esta necessidade. Por isso, chegaram aos vários cantões do mundo muito depois de todas as igrejas evangélicas.
Hoje, o Movimento da Restauração tem igrejas em todo o mundo. Provavelmente, na atualidade, há mais igrejas de Cristo na África do que na América do Norte. O crescimento da igreja na Europa Ocidental sempre foi pequeno, pois trata-se de um continente pós- cristão. Na Europa Oriental, desde a queda do Muro de Berlim, as missões receberam impulso.
A América Latina tem recebido uma atenção mediana do Movimento de Restauração. Por esta causa, o movimento ainda não é muito forte ou conhecido como as outras forças religiosas.
Outros movimentos de restauração
O conceito de “volta ao cristianismo primitivo” não é exclusivo desta irmandade cuja história acabamos de narrar. Um bom exemplo disto é o senhor Juan Antonio Monroy. Ele foi convertido a Cristo em Outubro de 1951. Em 1953 ele se tornou um estudante em um Instituto Bíblico árabe em Marrocos. Entre 1954 e 1955 ele trabalhou em duas igrejas em Tenerife. Em 1955 ele voltou a Tânger, onde trabalhou na igreja onde havia se convertido.
Fundou a revista “Luz e Verdade”, que dirigiu até 1959, e o programa semanal de rádio “Morning Star”. Em 1961 ele se mudou para Londres, onde estudou literatura, inglês e jornalismo. Completou a sua estadia em Londres, voltou a Tânger, onde fundou outra revista cristã: “A Verdade”.
Em 1964, ele passou dez meses em Nova York. Neste momento, ele conheceu o Movimento da Restauração da América do Norte, com o qual identificou muitos de seus esforços. Retornando em janeiro de 1965 para a Espanha, organizou o Movimento da Restauração.
Ele é a prova de que os ideais de restauração sempre brotam em vários lugares e em várias épocas. A obra dele na Espanha tem sido reconhecida por toda a cristandade evangélica e também pelos participantes do Movimento da Restauração.
No Brasil, podemos ver vários movimentos de Restauração. Conhecemos, pessoalmente, um dos iniciadores de uma igreja restauracionista brasileira chamada “Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
O movimento começou em 1936, em São Paulo. Um dos pioneiros deste movimento chamava-se Luiz Samaan. Através dele e de sua família, percebemos como aquela igreja tinha retornado a muitas práticas e doutrinas da igreja do Novo Testamento. Na década de 70, eles até praticavam o canto exclusivamente vocal (a capela) nas igrejas, coisa incomum no mundo religioso.
Infelizmente, a igreja adotou um padrão hierarquizado que tem levado a comunidade a se distanciar da simplicidade bíblica original e aproximar-se mais e mais dos modelos evangélicos e pentecostais. Contudo, eles são mais um exemplo, de muitos, que é possível voltar à prática do cristianismo bíblico pelo acesso exclusivo das Escrituras, sem contato com qualquer outro movimento restauracionista.
HISTÓRIA DA RESTAURAÇÃO NO BRASIL
O movimento da restauração chegou atrasado no Brasil. Isto pode ser visto na rápida narrativa abaixo sobre a chegada das várias confissões cristãs no Brasil.
A Igreja Católica Romana chegou no Brasil em 1500, com os primeiros exploradores. A Igreja Metodista veio em Brasil em 1836, com a pregação de Justino Spaulding. A Igreja Congregacional chegou no Brasil em 1855. A Igreja Presbiteriana acabou chegando ao Brasil, no ano de 1859, com o missionário Ashbel Green Simonton. A Igreja Batista veio para o Brasil em 1882. A Igreja Episcopal chegou em 1890 embora missionários vocacionais episcopais já operassem no tempo do Império.
Como se não bastasse, cada uma destas igrejas, na verdade, envolve muitas e muitas facções particulares: há mais de 23 seitas metodistas, 12 facções luteranas, centenas de divisões presbiterianas, batistas, congregacionais etc. Cada grupo deste, na verdade, subdividiu-se no mundo e no Brasil em muitas pequenas igrejas distintas.
As maiores igrejas pentecostais do mundo começaram quase simultaneamente no Brasil há mais de cem anos. A Congregação Cristã no Brasil foi iniciada por Louis Francescon em 1910 em São Paulo e no Paraná. O espírito do trabalho de Francescon era restauracionista. Também a Assembleia de Deus foi iniciada no Brasil apenas dez anos depois do movimento pentecostal iniciar nos Estados Unidos. Os dois missionários foram os suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Eles começaram em Belém do Pará. A Igreja do Avivamento Bíblico começou em 1946 numa dissidência da Igreja Metodista. Eles também são pentecostais buscando a restauração da igreja bíblica. A igreja Assembleia de Deus tem uma unidade aparente, mas seus distintos ministérios e facções também excedem uma centena de diferentes “Assembleias”.
A “segunda onda” do pentecostalismo brasileiro iniciou-se na segunda metade do Século XX. A Igreja do Evangelho Quadrangular veio para o Brasil por meio de missionários americanos em 1951. Manoel de Mello funda em 1956 a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo. Em 1962, David Miranda funda a Igreja Pentecostal Deus é Amor.
A “terceira e atual onda” pentecostal, agora chamada de neo- pentecostal iniciou-se pela influencia da Igreja Pentecostal Vida Nova, que havia sido iniciada em 1960 no Rio de Janeiro pelo bispo McAlister. Ele trouxe para o Brasil a “teologia da prosperidade”. Desta igreja saíram Edir Macedo e seu concunhado Romildo R. Soares. O primeiro fundou, em 1977, a Igreja Universal do Reino de Deus e o segundo, em 1980, fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus. Os dois seguem a mesma linha. A Igreja Renascer em Cristo foi fundada em 1986 visando a classe média por meio de cultos espetaculares. A Igreja Mundial do Poder de Deus foi fundada em 1998 por Valdemiro Santiago de Oliveira, ex-bispo da igreja de Edir Macedo e, agora, concorrente e desafeto do antigo patrão. Além destas igrejas principais, temos as grandes seitas trabalhando por muitos anos. Os Adventistas do Sétimo Dia, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e os Testemunhas de Jeová. São as seitas mais famosas. Os Adventistas se dividiram no Brasil, sendo a Igreja Adventista da Promessa a facção pentecostal e restauracionista do Adventismo.
As igrejas de Cristo no Brasil
Os primeiros missionários da igreja de Cristo no Brasil, de que temos notícia, foram os norte-americanos Orlando Boyer, Virgil Smith e George Johnson. Chegaram aqui em 1927 estabeleceram umas 20 congregações no interior do Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Ceará. Depois de 8 anos de trabalho, acabaram entrando no pentecostalismo. Randy Short, diretor do Seminário EBNESR tentou encontrar as igrejas fundadas por eles, mas nenhuma existe na atualidade.
Orlando Boyer e Virgil Smith tiveram carreiras longas na Assembleia de Deus no Brasil, contudo, no fim de sua vida Virgil Smith voltou para o Movimento da Restauração em Brasília.
Depois desta tentativa mal-sucedida, vieram os primeiros missionários, primeiro, das Igrejas Cristãs, em 1948. Eles eram o grupo que usava instrumentos musicais e tinham uma hermenêutica mais aberta à “permitir o que não for proibido”. Lloyd David Sanders era o missionário que chegou em Goiânia. As Igrejas Cristãs, (que usam instrumentos) no Brasil usam o nome de Igrejas de Cristo. Tiveram sua maior atividade no “eixo” Belém-Brasília. Atualmente, temos contato com esta irmandade nas cidades de Belém, Marabá, Araguaína e adjacências, Brasília, Goiânia Anápolis e região e, também, em São Luiz e Ananindeua.
Este grupo não é homogêneo, pois a fraternidade de Brasília, Goiânia e região optou pelo pentecostalismo e carismatismo. Foi a este grupo que Virgil Smith voltou na sua velhice. Já os irmãos dos estados do Pará, Tocantins e Maranhão não se pentecostalizaram, optando por manter suas raízes.
O primeiro missionário das igrejas de Cristo que não usam instrumentos musicais chegou ao Brasil em 1956. Arlie Smith iniciou seu trabalho no Rio de Janeiro, em 1969 foi para Lisboa, estabelecendo uma igreja lá e depois retornando ao Rio de Janeiro onde trabalhou até o fim de sua vida.
Contudo, o grande impulso para as igrejas de Cristo no Brasil ocorreu com a chegada de uma grande equipe missionária para São Paulo em 1961. Uma equipe similar chegou em 1968 em Belo Horizonte de forma que estas duas cidades foram os dois primeiros grandes centros das igrejas de Cristo.
Eles estabeleceram um bom princípio de trabalho missionário em equipes, de forma que uma “segunda onda” de missionários ocupou-se da região metropolitana de São Paulo.
A pregação no Brasil caminhou de modo mais lento do que estas equipes esperavam. Trabalhos se iniciaram em Porto Alegre e Curitiba à partir de missionários do grupo de São Paulo, contudo, o ritmo de crescimento era lento para o tamanho do Brasil. O trabalho no Rio de Janeiro, esforço da família Smith, andava devagar. Trabalhos iniciavam-se no interior, mas com pouca assistência e condição de rápido crescimento.
Assim, Ellis Long, um ex-missionário de volta aos Estados Unidos, cria uma “agência missionária”, primeiramente chamada de “Brazil Breakthrough”. Depois com a entrada de Dan Cooker, que se interessava pela América Hispânica, a agência torna-se “Continent of Great Cities” (doravante, CGC). Em 2012 o nome mudou para “Great Cities”.
Para o Brasil, eles organizam times de missionários visando estabelecer igrejas grandes nas grandes cidades do Brasil, visando, sobretudo, a “classe média brasileira”.
Este trabalho mudou a velocidade do crescimento das igrejas de Cristo no Brasil. Diferentemente das outras fraternidades do Movimento de Restauração, esta estratégia surgiu bons efeitos.
Claro que esta atividade também gerou problemas com os quais a nossa fraternidade ainda tem que conviver e lutar.
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Um dos problemas é a expectativa que o trabalho missionário será feito por norte-americanos. Ainda hoje, muitas igrejas estão esperando que algum missionário venha dos Estados Unidos para fazer o trabalho no Brasil. Também os obreiros brasileiros são desprezados ou muito mal pagos, de forma que o trabalho não oferece condições para que bons obreiros desenvolvam bons trabalhos. Infelizmente, isto é uma decorrência desta interferência estrangeira nas missões brasileiras.
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Algumas tentativas missionárias do CGC resultaram em grandes fracassos e grande perda de almas, trabalho e recursos. Quatro tentativas missionárias realizadas por esta instituição quase não produziram resultados em função da enormidade dos recursos gastos. É o caso dos trabalhos abaixo.
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Os trabalhos antigos do CGC, mais efetivos, normalmente foram realizados por obreiros oriundos de Belo Horizonte. A igreja central de Belo Horizonte foi realizada pelo esforço de união de igrejas, patrocinada por outros missionários mais antigos. O grupo mandado pelo CGC não conseguiu atingir o alvo.
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A expectativa forçada pelo CGC de que os missionários deixariam as igrejas com presbíteros e diáconos fez com que, em muitos casos, ocorressem eleições de homens desqualificados e neófitos, prejudicando o futuro ministério daquelas igrejas.
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As últimas equipes do CGC são orientadas a serem doutrinariamente flexíveis. Tal postura além de causar choques com as igrejas de outras partes, contribuiu para as divisões que ocorreram em Natal e Fortaleza. Esta relativização doutrinaria, fruto de um pragmatismo, provavelmente alimentará futuras divisões na nossa já bastante fragmentada irmandade.
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Visando um prometido crescimento da igreja, o CGC, atualmente tem apostado em equipes com um chefe-líder forte e único que centraliza e direciona o trabalho. Esta “reencarnação do mono-episcopado” deve trazer, também, os problemas doutrinários e de autoritarismo que aquele gerou. Infelizmente, neste caso, uma história trágica pode estar se repetindo.
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A estratégia de visar a classe média, interessando-se nos seus recursos financeiros e intelectuais para dar prosseguimento ao trabalho, mostrou-se uma estratégia negativa. A Assembleia de Deus e outros grupos pentecostais focaram os trabalhadores e pessoas mais simples de forma de depois de duas gerações já atingiram a anelada “classe média” pelo próprio desenvolvimento da “ética protestante de trabalho e poupança”. Hoje, as
Estas sugestões de relativização doutrinaria são sempre comentada pelos “candidatos” ao trabalho missionário do CGC.
Assim, o CGC fez avanços mas também introduziu algumas dificuldades.
Além destas influências estrangeiras, outras tendências podem ser observadas na igreja brasileira nestes últimos 50 anos.
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Os missionários americanos de 1961 iniciaram em São Paulo uma “Escola da Bíblia” para fazer a evangelização.91 Até hoje, as igrejas de Cristo do Brasil estão usando esta ferramenta. O uso de cursos por correspondência e programas de rádio, por muitos anos ajudaram a evangelização. Hoje, estes últimos caíram em desuso. Por descuido administrativo, a igreja de São Paulo perdeu uma rede de rádios que tinha adquirido com doações, de modo que o uso de meios de comunicação em massa não teve prosseguimento.
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Na década de 60, iniciou-se o Instituto de Estudos Bíblicos de São Paulo. Ele foi a primeira entidade de ensino teológico das igrejas de Cristo no Brasil. Dela vieram todos os outros esforços de treinamento teológico posterior.
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No fim da década de 80 a chegada do “Movimento do Discipulado” ao Brasil influenciou quase todos os grupos missionários para que formulassem roteiros de estudos para conversão e também estudos de acompanhamento posterior. Todos se pautavam pelo que, na época, parecia oferecer bons resultados.
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Atualmente, no Século XXI, um novo esforço para acelerar a produção de bispos e diáconos nas igrejas está sendo feito por organizações para-eclesiásticas que precisam justificar seu orçamento com alguma atividade no Brasil. Os resultados ainda não são visíveis, mas observa-se a clara tentativa de diminuir as exigências para os chamados aos ministérios no propósito de aumentar o número de obreiros.
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A dificuldade de crescimento que as igrejas de Cristo tem encontrado no Brasil tem levado alguns segmentos dela a buscar no marketing e na teologia das “igrejas-show” os meios para obter crescimento.
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Uma das mais destrutivas tendências dentro das igrejas de Cristo no Brasil é a reativação do “mono-episcopado” em novas formas. Instituições de treinamento insistem na ideia de “liderança”. Esta palavra é um conceito anglo-saxão que tem se imposto em todo o mundo por causa do predomínio desta cultura desde o Século XVIII até o XX. Contudo, o conceito de liderança prendido na sociedade civil e comercial, quando aplicado à igreja gera uma paganização da igreja e um desfiguramento do evangelho que ensina a igualdade de todos. Infelizmente, a “mania de liderança” é uma doença adquirida que a igreja no Brasil terá que enfrentar.
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As duas tendências extremistas que acompanham nosso movimento desde o começo também existem no Brasil. Há aqueles que querem estabelecer-se como os “únicos” cristãos e que acreditam serem os donos da verdade. Há outros que estão relativizando qualquer doutrina como “opinião” ou “coisa secundária” em relação ao verdadeiro evangelho. Claro que, como sempre, os extremos não nos ajudam a contribuir positivamente com a causa do Evangelho.
As igrejas de Cristo no Brasil tem aprendido muitas coisas com as igrejas que já estavam aqui antes dela. Alguns aprendizados são bons, biblicamente falando, mas outros não são bons, representando uma perda de qualidade do cristianismo que as igrejas de Cristo representam.
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As igrejas de Cristo no Brasil tem uma doutrina do Espírito Santo influenciada pelo mundo pentecostal, que é muito grande no Brasil. Isto é bom pois corrigiu a tendência que existia em algumas igrejas de Cristo americanas que pensavam que o Espírito Santo só agem através da Palavra de Deus. Na verdade, o mundo pentecostal ajudou as igrejas não pentecostais e também a nossa fraternidade, a pensar no Espírito.
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As igrejas de Cristo no Brasil devem muito às igrejas evangélicas em geral pela publicação de Bíblia, livros de estudo, criação de músicas e por todo o ambiente de liberdade religiosa que foi conquistada por eles em tempos mais difíceis. A ênfase na graça de Deus e na fé que as igrejas evangélicas tradicionais apresentam são lembretes importantes para que nossa fraternidade não acredite em um tipo de “salvação pela doutrina” ou ainda em uma “salvação pela obediência”. Graças a Deus, estes grupos estão aí para mostrar que a salvação é pela graça por meio da fé.
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As igrejas de Cristo no Brasil devem muito à igreja católica tradicional, pela religiosidade popular e pelo respeito à família. Quando se fala de Deus e de Jesus no Brasil ainda há respeito e isto a igreja romana ensinou ao povo. O catolicismo não soube doutrinar o nosso povo, mas, no Brasil, não destruiu sua crença, como ocorreu, por exemplo no Uruguai. Temos que agradecer ao preparativo de fé que o catolicismo proporciona.
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As igrejas de Cristo no Brasil devem muito às igrejas neo-pentecostais e aos teólogos da prosperidade, pois eles estão fazendo uma “pré-evangelização” do povo brasileiro. Na verdade, muitos vão ficar escandalizados com a ganância e o abuso da fé que estas igrejas promovem. Por outro lado, estas igrejas estão fazendo com que as pessoas voltem suas atenções para a religião, coisa que antes eles não fariam.
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As igrejas de Cristo no Brasil devem muito aos Teólogos da Libertação. Apesar de nossa fraternidade não ler muito o que estes homens ensinaram, os efeitos de sua pregação tem influenciado até grupos fechados como as igrejas de Cristo. Eles nos ensinam a não se submeter aos senhorios e às opressões dos sistemas econômicos, políticos e até teológicos. Aprendemos com eles que cristianismo deve levar à responsabilidade social e política. Eles nos ensinam que Jesus é sempre libertador e que sempre há uma ponta de verdade quando falam que os cristãos vão revolucionar as coisas.
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As igrejas de Cristo no Brasil hoje experimentam o desenvolvimento das igrejas nas casas, um fenômeno que ocorre em todas as igrejas evangélicas e protestantes no mundo todo. Fruto da pós-modernidade e da decepção com as grandes estruturas eclesiásticas, as igrejas nas casas estão evangelizando o mundo à partir da casa particular colocada a serviço do evangelho. As igrejas sempre usaram as casas para começar trabalhos: a diferença, agora, é que alguns não querem deixar as casas indo para os prédios, mas multiplicar as casas e espalhar o sistema mais e mais.
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As igrejas de Cristo no Brasil devem muito a todos os esforços religiosos que ocorrem em nossa nação. Isto não quer dizer que vamos concordar com tudo, mas também não quer dizer que vamos julgar ou criticar tudo. Cremos que Deus está agindo em nós. Podemos crer, também, que ele esteja agindo em outros!
CONCLUSÃO
As igrejas de Cristo no Brasil chegaram atrasadas em relação aos outros grupos. Contudo, a contribuição que tem a fazer para a cristandade brasileira e mundial é grande, pois temos uma boa herança de respeito às Escrituras e uma busca de unidade e restauração da igreja de Jesus.
Assim, a postura da igreja brasileira não deve ser de “dona da verdade” pois nossa história é tão cheia de erros e equívocos como a de qualquer outra fraternidade religiosa. Nossa humilde contribuição é nossa insistência em ser fiéis a Jesus por meio dos ensinamentos das Escrituras.
Se deixarmos esta particularidade, tiraremos do mundo religiosos brasileiro e mundial a oportunidade de “restaurar” suas práticas de acordo com a Bíblia.
Os pragmáticos querem que deixemos a insistência nas Escrituras para fazer coro com as “igrejas marqueteiras” que estão, aparentemente, crescendo. Contudo, não se deve abandonar o dom que Deus nos deu.
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Apostila Principal – Álvaro Pestana
Apostila – Restauração do Cristianismo Puro
Apostila – A Igreja na Restauração
Vídeo Aula com Álvaro Pestana
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